quinta-feira, 10 de maio de 2012

Humberto Delgado, Demito-o, obviamente…



No dia 10 de Maio de 1958, faz hoje 54 anos, o general Humberto Delgado deu uma conferência de imprensa no salão de chá do Café Chave de Ouro, em Lisboa, como candidato independente à Presidência da República.

Encontravam-se na sala dezenas de representantes da imprensa portuguesa e estrangeira, mas as emissoras de rádio e a Televisão Portuguesa não se fizeram representar. O Prof. Vieira de Almeida apresentou “As razões da independência da candidatura do general Humberto Delgado”, referindo que o candidato “não procura o apoio de partido algum nem o representa, antes aceita o apoio que lhe tragam todos os homens de boa vontade”, apresentando-se apenas armado do seu direito de cidadão eleitor e elegível.
Nas suas palavras, o general Humberto Delgado disse, a certa altura, que “a decisão de apresentar esta candidatura é tanto mais meritória quanto é certo que as condições são nitidamente desfavoráveis. Não há subterfúgios que inutilizem esta verdade singela. Só com cartas de eleitor e fiscalização plena, uma eleição pode considerar-se moralmente válida. De contrário, não, e não. É um intervalo mesquinho de… generosa autorização para propaganda política que faz lembrar impressionantemente a autorização dada aos presos para um passeio periódico, debaixo de formas, ao ar livre, no pátio da clausura.”

Quando terminou as suas palavras o general foi aplaudido e ouviram-se vivas a Portugal, à Liberdade e à República.

O general pôs-se, então à disposição dos jornalistas.
A primeira pergunta veio de imediato:
- Se for eleito Presidente da República, que fará do Sr. Presidente do Conselho?
E a resposta foi simples e imediata:
- Demito-o, obviamente…

A conferência continuou, mas só esta frase ficou para a História…

O general Humberto Delgado pagou com a vida o desafio ao ditador!

3 comentários:

  1. António Pedroso de Lima20 de maio de 2012 às 13:39

    O relevo que se deu, e continua a dar, à resposta dada pelo general Humberto Delgado, e´um enigma, para mim. Não consigo compreender como é que uma resposta óbvia, pois não passa na cabeça de ninguém que o general, caso fosse reeleito, pudesse não demitir Salazar, pode ser tratada como se fosse um acontecimento invulgar ou que dissesse algo de novo. Será uma singularidade inexplicável dos portugueses?

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  2. Talvez porque na altura o óbvio raramente era dito e assumido corajosamente em alto e bom som, terá sido esse facto que criou o impacto da resposta e não o óbvio do conteúdo, penso eu :)

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  3. António Pedroso de Lima23 de maio de 2012 às 13:05

    Para mim também se tornou evidente que o "obviamente demito-o" teve um impacto importante, tornando-a emblemática da própria campanha de Humberto Delgado, independentemente do seu conteúdo não trazer novidade nemhuma.
    A explicação desse sucesso resulta, quanto a mim, de a frase ser muito simples, bonita, ter sido dita com expontaneidade, soar bem e dizer o essencial que os adeptos de Humberto Delgado queriam ouvir: "o que é preciso é correr com Salazar..."
    Penso assim que a "descoberta da utilidade desta frase como elemento importante da campanha" talvez permita explicar melhor o seu sucesso do que o fator coragem, que, quanto a mim, não esteve presente na resposta de Humberto Delgado ao jornalista, visto que, na realidade, o general não correu qualquer risco ao faê-lo.

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