quarta-feira, 16 de maio de 2012

Conferências do Casino, Abrir uma tribuna...


No dia 16 de Maio de 1871, faz hoje 141 anos, foi apresentado o Manifesto sobre as Conferências Democráticas do Casino Lisbonense, que acabariam proibidas antes de terminarem. A Revolução de Setembro publicou o Manifesto logo no dia 18.
Realizaram-se as seguintes conferências:
- Antero de Quental, "Causa da decadência dos povos peninsulares nos últimos três séculos";
- Augusto Soromenho, "Literatura portuguesa contemporânea";
- Eça de Queiroz, "A arte";
- Adolfo Coelho, "A questão do ensino".
A quinta conferência já não pôde ser apresentada, porque o governo do marquês de Ávila e Bolama proibiu as Conferências.

Eis o texto do Manifesto:
“Ninguém desconhece que se está dando em volta de nós uma transformação política, e todos pressentem que se agita, mais forte que nunca, a questão de saber como deve regenerar-se a organização social.
Sob cada um dos partidos que lutam na Europa, como em cada um dos grupos que constituem a sociedade de hoje, há uma ideia e um interesse, que são a causa e o porquê dos movimentos.
Pareceu que cumpria, enquanto os povos lutam nas revoluções, e antes que nós mesmos tomemos nelas o nosso lugar, estudar serenamente a significação dessas ideias e a legitimidade desses interesses; investigar como a sociedade é, e como ela deve ser; como as nações têm sido, e como as pode fazer hoje a liberdade; e, por serem elas as formadoras do homem, estudar todas as ideias e todas as correntes do século.
Não pode viver e desenvolver-se um povo isolado das grandes preocupações intelectuais do seu tempo; o que todos os dias a humanidade vai trabalhando deve também ser o assunto das nossas constantes meditações.
Abrir uma tribuna aonde tenham voz as ideias e os trabalhos que caracterizam este momento do século, preocupando-nos sobretudo com a transformação social, moral e política dos povos;
Ligar Portugal com o movimento moderno, fazendo assim nutrir-se dos elementos vitais de que vive a humanidade civilizada; Procurar adquirir a consciência dos factos que nos rodeiam na Europa;
Agitar na opinião pública as grandes questões da filosofia e da ciência modernas;
Estudar as condições da transformação política, económica e religiosa da sociedade portuguesa;
Tal é o fim das conferências democráticas.

Lisboa, 16 de Maio de 1871. – Adolfo Coelho, Antero de Quental, Augusto Soromenho, Augusto Fuschini, Eça de Queiroz, Germano Vieira Meireles, Guilherme de Azevedo, Jaime Batalha Reis, J.P. Oliveira Martins, Manuel de Arriaga, Salomão Sáraga, Teófilo Braga.
Será segunda-feira, 22 do corrente, às 9 horas da noite, a primeira conferência; seguindo-se as outras todas às segundas-feiras, à mesma hora. Entrada 100 réis”.

3 comentários:

  1. cento e quarenta e um anos... estas escalas temporais impressionam-me... "as grandes questões da filosofia e da ciência modernas": andamos apenas em círculos?

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    1. De facto, parece que nem uma palavra está a mais ou a menos neste Manifesto. Hoje não conseguiríamos dizer melhor, nem fazer melhor. Acho que nos falta um conjunto de intelectuais do mesmo valor que possa subscrever tal manifesto. Os círculos em que nos enredamos são cada vez mais estreitos... No fundo, faltam-nos filósofos, estadistas, empresários, pedagogos. Em contrapartida, sobram-nos opinadores, demagogos, patrões e mestres!

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  2. António Pedroso de Lima20 de maio de 2012 às 16:03

    Quanto a isto apenas duas observações:
    . A situação do país vive hoje é radicalmente diferente da que encontrou a geração de 70. È impensável no Portugal actual o poder político proibir um conjunto de Conferências, como as do Casino, destinadas a debater os problemas e o futuro do país.
    . Também penso que em termos de capacidade para resolver os problemas do país no atual mundo globalizado estamos muito melhor do que então. O fator que considero essencial foi o boom que se verificou na Educação e cujos resultados ainda estão para vir,

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