No mesmo
ano, José Régio publicou um texto com o título “Recurso ao Medo”, num opúsculo
dos serviços centrais da candidatura de Norton de Matos “Depoimento contra
Depoimento”, texto que a censura impedira de ser publicado no jornal República:
“Não quero
falar em represálias, não quero falar em sevícias, não quero falar em tiranias,
a propósito do regime que há duas boas dezenas de anos se nos impôs. Não quero…
porque não quero. Mas há uns bons anos que grande parte do povo português –
deste povo que somos nós todos, e não só quem os governantes decretam – vive sob
o entorpecedor império do medo. Também aqui pretendo não exagerar, e antes ser
comedido. Nada é preciso exagerar para se provar não poder eternizar-se a
estranha situação em que temos vivido. Sim, admito não se tratar entre nós do
medo de terríveis torturas, vinganças e repressões. Não é, propriamente, pavor,
o medo que nos tem vindo tolhendo. Mas é o medo indeciso, flutuante, hesitante,
vago, mole, contínuo… O medo supremamente desmobilizador. (…)”.
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