domingo, 10 de junho de 2012

Camões, Vil tristeza…


No dia 10 de Junho de 1880, faz hoje 142 anos, comemorou-se o tricentenário de Camões, festa que os republicanos aproveitaram para combater a Monarquia e fazer a propaganda das ideias republicanas. Teófilo Braga escreveria o seguinte trecho sobre o evento, na sua História das Ideias Republicanas em Portugal:
“A democracia portuguesa conta com uma data gloriosa, que é o começo de uma era nova: o 10 de Junho de 1880. Nesse dia, todas as forças vivas, tudo quanto há com futuro ainda nesta pequena nacionalidade, vibrou com unanimidade ao impulso de um estímulo consciente, a tradição ligada ao nome de Camões como o representante e o símbolo da civilização de um povo que se sente fora da vida histórica. (…)
Nenhum passo a favor da liberdade portuguesa se deu sem que fosse provocado pela compreensão d’ Os Lusíadas (…) todos procuraram nesse paládio nacional as consolações do desterro, a inspiração para a renovação artística, o vínculo fraterno que ligava todas as vontades”.

Eis o meu contributo para a celebração do poeta:  duas estrofes d’ Os Lusíadas que, como outras, nos podem servir de inspiração:

E ponde na cobiça um freio duro,
E na ambição também, que indignamente
Tomais mil vezes, e no torpe e escuro
Vício da tirania infame e urgente;
Porque essas honras vãs, esse ouro puro,
Verdadeiro valor não dão à gente,
Melhor é merecê-los sem os ter,
Que possuí-los sem os merecer.
                        Canto IX, 93

Não mais, Musa, não mais, que a Lira tenho
Destemperada e a voz enrouquecida,
E não do canto, mas de ver que venho
Cantar a gente surda e endurecida.
O favor com que mais se acende o engenho
Não no dá a pátria, não, que está metida
No gosto da cobiça e na rudeza
Duma austera, apagada e vil tristeza.
Canto X, 145

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