No dia 19 de Junho de 1875, faz hoje 137 anos, apareceu a
primeira caricatura do Zé Povinho n’ A Lanterna Mágica, nº 5, criação de Rafael
Bordalo Pinheiro, que desde então tem convivido connosco, pela mão não apenas
do seu criador, mas de muitos outros artistas e escritores.
Em 1882, João Ribaixo (Ramalho Ortigão) escreveu um
belíssimo texto sobre o Zé Povinho, O soberano!,
no
Álbum das Glórias. Eis alguns trechos:
“Brinca brincando esta criança tem hoje perto de cinquenta
anos de idade!
Não consta que jamais as graças da infância se houvessem
conservado por tão longo tempo num homem como fenomenalmente se conservam no
sujeito que hoje biografamos.
Nele concorrem em feliz conjunto todas as partes que nos enlevam
e encantam no bom menino: Casta inocência, temor de Deus, obediência a seus
mestres, humildade, nariz por assoar, dor de barriga às segundas-feiras, e
santíssima ignorância.
Aos carinhosos desvelos de sua extremosa mãe, a Carta, e de
seu galhofeiro pai, o Parlamentarismo, se deve o estado miraculoso de
infantilidade que tão vantajosamente recomenda este vulto à simpatia e ao
espanto de todo o mundo.
Eis em resumo a instrutiva história de portento tão
admirável e prodigioso: (…)
Crescido, Zé Povinho correspondeu às esperanças que nele
depositaram os solícitos poderes do Reino. Como desenvolvimentos de cabeça, ele
está pouco mais ou menos como se o tivessem desmamado ontem.
De músculos, porém, de epiderme e de coiro, engrossou,
endureceu e calejou como se quer e, cumprindo com brio a missão que lhe cabe, ele
paga a sua satisfatoriamente.
De resto, dorme, reza, e dá os vivas que são precisos.
Um dia virá talvez em que ele mude de figura e mude também
de nome para, em vez de se chamar Zé Povinho, se chamar simplesmente Povo. Mas
muitos impostos novos, empréstimos, novos tratados e novos discursos correrão
na ampulheta constitucional do tempo antes que chegue esse dia tempestuoso.
Por tudo pois, ao resumirmos nestes leves traços, a
interessante história de Zé Povinho, os nossos parabéns cordiais a seus sábios
e carinhosos pais, os Públicos Poderes”.
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