sábado, 7 de janeiro de 2012

Jaime Cortesão, A Formação Democrática de Portugal


Jaime Cortesão escreveu em Paris, em 1928, faz portanto 84 anos, um texto intitulado “A Formação Democrática de Portugal”, depois incluído nas suas obras completas, no volume “Os Factores Democráticos na Formação de Portugal”. Em várias ocasiões, Jaime Cortesão procura trazer em auxílio da sua concepção democrática da história portuguesa, o próprio conceito de História, enquanto actividade científica. Eis um pequeno trecho daquele ensaio:

“Dissemos que a História é a consciência dos povos. Podemos acrescentar que é igualmente a consciência da Humanidade, e tanto mais o será daqueles quanto com a desta se confunda. Nenhum acto nacional pode ser mais próprio a dar o sentido e a medida da individualidade colectiva do que aqueles que transcendem os interesses da Grei e servem vastos desígnios e ideais humanos. Ora o traço entre todos eminente da fisionomia nacional é o carácter profundamente universalista, nas suas origens, na sua formação, na sua missão, nas suas consequências, da história portuguesa.
Supor que a índole democrática do nosso povo deriva do acto gracioso dos príncipes, concedendo as cartas do concelho, ou das tradições administrativas, deixadas como um resíduo secular pelo império romano, como Herculano, na esteira de Guizot e Thierry, imaginou; ou das instituições judiciais germânicas, conservadas pelos Visigodos, como afirmou Hinojosa, à maneira de Below e Lamprecht, equivale desde logo a desconhecer a essência, o espírito, o elemento vivificador das nossas origens, sem o qual se torna impossível compreender a totalidade da nossa história.
A formação de Portugal é conjuntamente uma consequência e uma fase da revolução económico-social, política e religiosa, que transforma a Europa entre os séculos XI e XIV. E a liberdade, o acesso das classes populares à administração local e pública e a sua ingerência na política da Nação não representam herança ou doação, mas sim uma conquista revolucionária”.

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