quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Camilo Castelo Branco, Calisto Elói, o luxo e a ordem!


Camilo Castelo Branco publicou em 1866, faz portanto 146 anos, o seu romance A Queda de um Anjo. Calisto Elói é o conhecido herói do romance, que Camilo apresenta logo no primeiro capítulo. Deixo aqui dois pequenos trechos muito elucidativos:

1. “Andava o ânimo de Calisto Elói martelado pelo desejo de pôr cobro ao luxo da gente de Lisboa (…) Rebelde às admoestações sisudas de amigos, que lhe receavam alguma queda mortal no conceito da Câmara, Calisto, provocado por um debate sobre importação e direitos de objectos de luxo, pediu a palavra, e o mesmo foi alvorotar alegremente a Câmara, desejosa de ouvi-lo.
Concedida a palavra, e feito o silêncio da curiosidade na sala, ergueu-se o morgado de Agra, e orou deste feitio:
- Sr. presidente. Os conselheiros dos antigos reis de Portugal, homens de claro juízo e ciência bastante, cortavam os abusos do luxo com pragmáticas, quando os vassalos se desmandavam em trajos, regalos e ostentações ruinosas do indivíduo, e, portanto, da cidade. (…)
O que eu vejo, sr. presidente, são sete abismos, e à boca de cada um o rótulo dos sete pecados capitais que assolaram Babilónia, Cartago, Tebas, Roma, Tiro, etc. É o luxo, sr. presidente!
(…)
- De que desconhecida lua choveu ouro sobre estes peraltas enluvados e encamistrados que pejam os teatros, praças e botequins de Lisboa? (…)
À custa de quem se vestem estes Narcisos e Adónis? Que incógnitos veios de ouro exploram? Qual é sua arte, se não devo antes perguntar quais sejam suas manhas ou ronhas? Que sabe a polícia deles?”.

2. “Na primeira votação importante para o ministério, Calisto Elói defendeu o projecto que era vital para o Governo, e fez-se desde logo necessário à situação. Orou, por vezes, com seriedade tal de princípios, que não servem para romance os seus discursos. Explicou a profissão da sua nova fé, respeitando as crenças políticas dos seus antigos correlegionários. Disse que escolhia o seu humilde posto nas fileiras dos governamentais, porque era figadal inimigo da desordem, e convencido estava de que a ordem só podia mantê-la o poder executivo, e não só mantê-la, senão defendê-la para consolidar as posições, obtidas contra os cobiçosos delas. Reflexionou sisudamente e fez escola. Seguiram-se-lhe discípulos convictíssimos, que ainda agora pugnam por todos os governos, e por amor da ordem que está no poder executivo”.

Ver mais sobre Camilo em:
http://casadecamilo.wordpress.com/
e especialmente:
http://casadecamilo.wordpress.com/2010/11/19/a-queda-dum-anjo/

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