terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Basílio Teles, A Revolução Republicana do Porto


No dia 31 de Janeiro de 1891, faz hoje 121 anos, saiu à rua, na cidade do Porto, um movimento revolucionário republicano com intenção de derrubar o governo e a monarquia e implantar a república; foi dominado em poucas horas pelas forças governamentais. Este primeiro movimento republicano culmina uma época de grande tensão social e política, iniciada com as comemorações camoneanas do centenário de 1880, e cujo ponto alto foi o ultimato inglês de 11 de Janeiro de 1890. A revolução republicana do Porto, ou o 31 de Janeiro, ficaria como prólogo do 5 de Outubro de 1910, que quase 20 anos depois implantou a República.

Basílio Teles relembra o movimento no seu livro Do Ultimatum ao 31 de Janeiro – Esboço de História Política, publicado em 1905, de onde se retira o seguinte trecho:

“O movimento do Porto tem (...) uma fisionomia própria, que não permite confundi-lo com os casos históricos, consciente ou inconscientemente, imitados pelos chefes. Essa fisionomia consiste na preponderância do elemento popular nos episódios mais salientes do dia. Excepção feita de meia dúzia, cujo carácter burguês é manifesto, as figuras que nele desempenham papel activo pertencem, incontestavelmente, às camadas populares. (…)
Em 31 de Janeiro, homens notáveis pela posição social ou pelo talento entram por minoria infinitésima; oficiais de graduação elevada, nem um aparece a dar sequer uma adesão platónica; e de patentes modestas, contam-se apenas três. Quem prepondera, quem se mostra no primeiro plano, quem se exibe em relevo poderoso, são os paisanos desconhecidos que investem com a porta do quartel de Infantaria 18, e os sargentos e soldados anónimos que, horas depois, na Rua de Santo António e na Câmara replicam ao fogo da Guarda Municipal. Pela primeira vez no nosso país, a multidão obscura que vegeta nos quartéis ou se agita vagamente nos bairros da miséria veio gritar francamente, à luz do dia, que está farta de monarquia e de Braganças. O que não tiveram a coragem de balbuciar os homens de 1820, 1836 e de 1846, apesar de não lhes faltarem motivos para depor dinastas cobardes, perjuros e traidores, disse-o o povo do Porto singelamente, em linguagem clara e rude, no dia 31 de Janeiro de 1891. Coube-lhe nesta data notável nos anais da nossa pátria, a honra de ser o intérprete dos sentimentos de todo o povo português, proclamando perante a História, em voz audível, o que a maioria dos cidadãos só em confidência se atrevia a querer. A revelação do segredo íntimo dos corações patriotas e viris, feridos no seu orgulho e nos seus mais caros afectos pela fuga ignóbil do rei e dos partidos conservadores no conflito anglo-luso - tal, em poucas palavras, a significação do movimento do Porto, desfecho lógico, portanto, do 11 de Janeiro”.

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