domingo, 15 de janeiro de 2012

Alexandre Herculano, A História e a verdade


Alexandre Herculano publicou o I tomo da sua História de Portugal em 1846, há portanto 166 anos. Na “Advertência” à primeira edição, o autor chama a atenção para a ideia que o guiou na elaboração da sua obra, acabando por expressar as linhas mestras de um novo conceito de História, muito diferente do que então era habitual. Também neste campo Herculano acabou por ser um precursor, em Portugal. Eis alguns trechos da “Advertência” à 1ª edição:

“Erros, havê-los-á neste volume, bem como nos que se lhe seguirem. O que, porém, posso afirmar com a mão na consciência é que eles foram involuntários. Tenho fé que não me cegou malevolência para com os estranhos, nem parcialidade pela terra natal. Para o homem sacrificar a longas e áridas investigações, frequentes vezes sem resultado, todas as faculdades do espírito, quase todas as horas da vida, com o intuito de dar ao seu país uma história, se não boa, ao menos sincera, é necessário, creio eu, algum amor da pátria. Cifrei-o nisso tão-somente. Convertendo em realidade o meu pensamento, procurei esquecer-me de que sou português, e parece-me tê-lo alcançado. O patriotismo pode inspirar a poesia; pode aviventar o estilo; mas é o péssimo conselheiro do historiador. Quantas vezes, levado de tão mau guia, ele vê os factos através do prisma das preocupações nacionais, e nem sequer suspeita que o mundo se rirá, não só dele, o que pouco importará, mas também da credulidade e ignorância do seu país, o qual desonrou, crendo exaltá-lo! Dos que por má-fé assim procedem não falo eu aqui. Esses lisonjeiros das multidões são tão abjectos como os lisonjeiros dos reis, quando os reis eram os dispensadores das reputações e das recompensas. (…)
É, sem dúvida, custoso ver desfazerem-se em fumo crenças arreigadas por séculos, a cuja inspiração nossos avós deveram, em parte, o esforço e a confiança na Providência em meio dos grandes riscos da pátria; crenças inventadas, talvez, para espertar os ânimos abatidos em circunstâncias dificultosas. Sei isto; mas também sei que a ciência da história caminha na Europa com passos ao mesmo tempo firmes e rápidos, e que, se não tivermos o generoso ânimo de dizermos a nós próprios a verdade, os estranhos no-la virão dizer com mais cruel franqueza. Caluniadores involuntários do seu país são aqueles que imaginam estar vinculada a reputação dos antepassados a sucessos ou vãos, ou engrandecidos com particularidades não provadas nem prováveis. Acaso Portugal não achará nas memórias verídicas da sua longa existência recordações formosas e puras para nos repreender, com a energia e glória de outros tempos, da degeneração e decadência presentes? Quem assim o crê insulta a memória de gerações que valiam mais que nós, e que recusariam, se pudessem fazê-lo, façanhas que não praticaram, virtudes que não tiveram; porque possuíram outras que eram suas, e de que nunca os progressos da história hão-de esbulhá-las. (…)”.

Ver as principais obras de Alexandre Herculano na base BND (Biblioteca Nacional Digital), da BNP: http://purl.pt/index/geral/aut/PT/22536.html

Parece não existir um site dedicado a Alexandre Herculano. Na sua ausência ver a Wikipédia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Alexandre_Herculano


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