sábado, 23 de julho de 2011

Duque da Terceira - da Cova da Piedade a Lisboa!


No dia 23 de Julho de 1833, faz hoje 178 anos, deu-se um combate na Cova da Piedade entre as tropas liberais do Duque da Terceira e as tropas miguelistas de Teles Jordão.

O próprio Duque da Terceira descreveria, mais tarde, os acontecimentos:
"Tendo eu estendido alguns caçadores sobre os flancos da coluna, continuei a minha marcha, retirando-se os atiradores inimigos de altura em altura até penetrar na estrada escavada, que por entre as barreiras do Alfeite desemboca no vale da Piedade. Este vale, prolongamento da enseada do Tejo, por de trás de Cacilhas, limita ao Sul as alturas de Almada, e oferece um pequeno campo plano, onde vem desembocar, de um lado, a estrada que eu seguia, e do outro as estradas do Pragal na esquerda, de Almada, no centro, e de Cacilhas por Mutela na direita.
É ali que o inimigo, conhecendo que me é superior em cavalaria, pretendia atrair a minha coluna para tirar partido daquela arma, manobra esta que eu tinha previsto pelo conhecimento prévio do terreno, confirmando-me nesta ideia a fraqueza da resistência oposta até ali à minha marcha. Com efeito, apenas os meus flanqueadores estendidos no vale tinham desalojado os do inimigo, e a testa da coluna desembocava no mesmo vale pela estrada do Alfeite, dois esquadrões de cavalaria lançados da estrada de Cacilhas carregaram com todo o ímpeto de quem conta com uma vitória certa; porém os meus atiradores reunindo à coluna com o maior sangue frio e presteza, e os batalhões de caçadores números 2 e 3 do comando do coronel Romão e major Vasconcelos, ambos à voz do brigadeiro Schwalbach, repeliram este ataque com tal denodo e acerto, que a cavalaria inimiga sofrendo uma grande perda, fugiu em completa debandada, cobrindo-se contra o meu fogo com os armazéns da Cova da Piedade.
Malograda assim a esperança do inimigo, tudo indicou que ele só cogitava de retirada, e por isso, deixando o regimento 6º de infantaria cobrindo a estrada do Pragal e Almada, que o inimigo tinha cortado, prossegui com o resto da força direito a Cacilhas para cortar ao inimigo a retirada, ocupando todas as avenidas que descem de Almada, com companhias destacadas do 3º regimento de infantaria. (...)
É impossível descrever o espectáculo que apresentava aquele lugar - infantaria, cavalaria, artilharia, bagagens, generais, oficiais e soldados se precipitavam confusamente nos barcos próximos ao cais, confusão que aumentava ainda pela escuridão da noite, apresentava a imagem de um verdadeiro caos, mas, honra seja dada aos generosos triunfadores da usurpação, a baioneta do soldado que provocara e debelara o inimigo na carga, embotou-se para o inimigo vencido; as nossas espadas entraram nas bainhas, e os vencidos confundidos com os vencedores, pareciam meia hora depois irmãos de há muito reconciliados".

No dia seguinte, a 24 de Julho de 1833, o Duque da Terceira desembarcava triunfalmente em Lisboa, a cujos habitantes dirige a seguinte proclamação:
"Habitantes de Lisboa! A divisão do exército libertador, de cujo comando S.M.I. o duque de Bragança, em nome da rainha, houve por bem encarregar-me, com a mira unicamente em libertar-vos, atravessou as províncias do Sul do Tejo, e veio sobre a margem deste rio fazer tremular diante de vós o estandarte da rainha e da liberdade; mas este estandarte, a cuja sombra se abrigaram no meio das perseguições, do exílio, e dos combates, os leais sustentadores do trono e da carta, jamais foi o emblema da guerra e da vingança, mas sim o da paz, o da concórdia e da clemência e perdão para os iludidos e desgraçados. Portanto, habitantes de Lisboa, a ordem, o respeito aos direitos de todos, a tranquilidade e o sossego da capital é o que eu de vós espero e exijo. Eu tenho dado e continuarei a dar as providências para o vosso regular armamento, restabelecendo os mesmos corpos, que em outro tempo foram o sustentáculo da rainha e da carta; neles e naqueles que passarei a organizar, tereis ocasião de partilhar a glória e de restaurar a nação, de manter a ordem e a tranquilidade dos nossos lares. Quartel-General em Lisboa, em 24 de Julho de 1833. Duque da Terceira".

1 comentário:

  1. Este texto do duque da terceira sabe onde se encontra publicado ou o original? Muito obrigado

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