sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

João Chagas, Um aspecto da corrupção política


Em 13 de Dezembro de 1909, faz portanto 102 anos, João Chagas publicava mais uma carta incluída nas suas Cartas Políticas, de que se extrai o seguinte trecho:

“Vejamos um aspecto só da corrupção política. Vejamos este: sobrecarregar o tesouro com novos encargos inúteis é evidentemente cooperar na obra da ruína pública, tornando o seu desenlace mais calamitoso ainda do que já o será; é espoliar o cidadão; é minar o Estado; é preparar conscientemente a catástrofe. Ascenda, porém, ao poder qualquer dos homens que neste momento o reclamam, sob o pretexto de que tem direito a ele. Imediatamente, seja um, ou seja outro, seja este, ou aquele, ou sejam todos a um tempo, se verão cercados, envolvidos, acometidos pela turba de pedinchões que em Portugal sempre acompanha o poder, como os peixes acompanham as naus que deitam por fora; e que farão? que farão?
Recusar-se-ão a servi-los, recusar-se-ão a nutri-los, recusar-se-ão a sacia-los?
Não e não! Os homens que querem o poder alegam direitos. Esses também alegarão os seus. Não se é ministro de Estado em Portugal pelos nossos bonitos olhos. Quem quer ter essa honra, paga-a. A influência dos ministros e mui especialmente a dos primeiros ministros, compra-se, e como ainda não apareceu nenhum que, em homenagem a estes princípios, o fizesse com sacrifício da sua fortuna pessoal, todos a compram com o dinheiro do Estado, isto é, todos cavam a ruína do Estado, que é a nossa. Os nossos partidos políticos estão-nos pesados a oiro e não é possível constituir nenhum que não seja por este alto preço.
Tem esta moral, estes costumes, estes processos sofrido alguma modificação, mercê dos rebates do desastre próximo, da falência a breve prazo, da bancarrota inevitável?
Basta percorrer os jornais destes últimos tempos, os de ontem, os de hoje, para verificar que não. Todos os dias se fazem novas nomeações para lugares que não existem, ou são desnecessários. (…)”.

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