sábado, 10 de dezembro de 2011
Alves Redol, Há revolução na Alemanha!
Em Novembro de 1972, fez portanto 39 anos, foi publicado o último romance de Alves Redol (1911-1969), Os Reinegros, cuja acção se situa desde os últimos anos da Monarquia até aos confrontos de Monsanto, em 1919. Eis dois dos últimos trechos:
“As greves parciais não cessavam e o povo começava a cansar-se. Entre os salários e o custo da vida, aumentava o abismo, e só um grande movimento total poderia opor-se à ganância de uns tantos. Promoviam-se assembleias nos sindicatos, para ordenar os esforços de todos, realizavam-se comícios de exaltação e propaganda da greve geral. As prisões enchiam-se. A pneumónica alastrava, numa ceifa aterradora. Os cadáveres ficavam à porta dos cemitérios, esperando vez. Famílias inteiras desapareciam, aldeias despovoavam-se. Não bastavam os transportes usuais para carregar os mortos. Era ainda o luto da guerra.
Os sinos das igrejas calavam-se, para que os doentes não dessem conta da mudança trágica da morte. Faltavam médicos - não havia remédios. Nos campos de batalha os soldados caíam - o fim era uma interrogação, preocupava todos.
QUANDO ACABARÁ?
(…)
*
Houvera o alarme, mas três dias depois a notícia confirmava-se. Às dez horas da manhã todos os navios salvavam com vinte e um tiros. Os sinos das igrejas voltaram a repicar; as sereias dos navios e das fábricas encheram a cidade daquela nova, enquanto as ruas transbordavam de uma multidão exaltada, que via no fim da guerra o nascer de uma outra vida.
- O armistício! O armistício!
VIVA A FRANÇA! VIVA A INGLATERRA!
VIVA A REPÚBLICA!
O Século e o Notícias publicavam edições extraordinárias.
Grupos cantavam pelas ruas o hino nacional e todos confraternizavam do mesmo entusiasmo - burgueses e pés-descalços, velhos e crianças! Abraçavam-se desconhecidos; criavam-se amigos num olhar e num viva. Os cafés, as tabernas e os restaurantes enchiam-se de gente que vitoriava o acontecimento com ceias. Os pobres iam para as bichas receber o bodo; nos mercados as vendedeiras desfaziam-se, por qualquer preço, do que tinham nos lugares.
VIVA A FRANÇA!
Havia bandeiras pelas janelas e nas mãos de populares que percorriam a cidade, roucos de gritar e exuberantes de júbilo.
- Há revolução na Alemanha. Acabou-se tudo.
As mulheres choravam de alegria, consolando as que tinham os maridos ou os filhos mobilizados. E as crianças, com carapuços de papel na cabeça, imitavam os cornetins das marchas militares, marcando passo, em filas, à voz de generais que escolhiam entre os que tinham espada.
- Acabou a guerra!”.
Ver aqui o essencial sobre Alves Redol: http://www.alvesredol.com/intro.htm
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