sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Oliveira Martins, O povo, dorme e sonha?


Oliveira Martins publicou o seu Portugal Contemporâneo em 1881, há portanto 130 anos; como últimos parágrafos do livro, escreveu o seguinte:

“O que eu daqui estou vendo, ao pôr as últimas palavras nesta obra triste, é o leitor irritado amarfanhar o livro nas mãos, pisá-lo com os pés, vingando-se do atrevimento de quem lhe disse coisas que tanto o ofendem. Nunca os jornais tal escreveram, nunca o Parlamento ouviu tais heresias: nem os velhos, nem os moços jamais as proferiram! Também os médicos, por via de regra, escondem às famílias a gravidade das doenças: umas vezes não as percebem, outras convém-lhes mentir, para não assustar! Assim estão as classes que nos governam; e até hoje, força é dizer que o povo não descobriu ainda meio de se libertar delas.
Nem descobriu o meio, nem demonstrou a vontade. Dorme e sonha? Ser-lhe-á dado acordar ainda a tempo?”.

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