quarta-feira, 30 de novembro de 2011
Oliveira Martins, Pessimismo
Oliveira Martins publicou em 1891, há portanto 120 anos, no jornal Nacional, um pequeno artigo intitulado “Pessimismo”, de que se transcrevem alguns trechos:
“Pessimismo
Com este labéu se apodam os que, nos tempos descuidados e serenos, ousam analisar, julgar e dizer com clareza os perigos inevitáveis do futuro. Chama-se-lhes gente azeda, de maus fígados, criaturas incómodas que vêm interromper o ciclo da sociedade bem comida e bem bebida.
Um dia, porém, ouve-se o dobre de finados; e foram sempre os pessimistas aqueles que mais corajosa e denodadamente souberam encarar a crise, com a alma segura e a consciência serena.
Os optimistas da véspera, aterrados, apertam a cabeça com as mãos, e perdida a fortuna, perdem o sangue-frio. Os cépticos riem à socapa, cogitando nos meios de medrar com a própria desgraça; e os críticos dizem como na fábula a formiga à cigarra: Cantaste? Pois dança agora!
Na Revista de Portugal, de Novembro, vem um artigo intitulado Uma lição histórica (…)
A lição histórica é a da Prússia depois de Iena e da paz de Tilsitt, em 1807, quando esse grande pessimista do Barão de Stein, insuportável criatura para a corte patusca de Frederico Guilherme II, tomou em mãos as rédeas do governo, e do farrapo esfrangalhado de uma nação fez o povo de espartanos baptizado em Leipzig, para depois se levantar triunfante em Sadova e em Sedan.
A velha Prússia apodrecia, amarrada ao seu feudalismo e à sua servidão histórica: o pessimista Stein varreu de golpe essas antiqualhas, criando a vida local sobre o alicerce firme dos servos emancipados. (…)
Vai por cá o mesmo egoísmo, o mesmo sibaritismo, a mesma indolência, a mesma intriguice, a mesma mesquinhez e a mesma falência da nação patusca de Frederico Guilherme II, contra que protestava o pessimista Barão de Stein.
E foi esse, porém, que segurando a Prússia pelos cabelos a impediu de se afogar, como anos antes sucedera à Polónia, dilacerada pelo mercenarismo dos partidos.
O que nós todos, pessimistas, quereríamos é que as lições da história servissem para alguma coisa; e que, em vez de declamações fúnebres de desespero, em vez de pataratices de um messianismo fora do tempo, porque já passaram as idades de Babilónia e o espírito do profetismo: em vez de toda essa farragem que não é mais do que um novo sintoma de cachexia senil, puséssemos corajosamente mãos à obra do nosso rejuvenescimento. O pessimismo é a escola da coragem.
Oxalá não tenha soado já a hora de se voltar a página, e de, na derrocada geral, se transformarem os papéis, vendo-se os optimistas de ontem, enquanto a mesa era farta, carpirem hoje, desolados em jeremiadas, o acabamento inevitável de tudo!".
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