quinta-feira, 19 de abril de 2012

A Hora da Liberdade


Em Abril de 1974, há 38 anos, os militares que iriam derrubar o governo no dia 25 de Abril, ultimavam os preparativos para a operação militar e para a apresentação de um programa político.
Hoje, às 18h00, na Associação 25 de Abril, lançamos um livro de entrevistas a muitos desses protagonistas, A Hora da Liberdade, que é acompanhado por um filme em DVD, produzido pela SIC para comemorar os 25 anos do 25 de Abril em 1999. São autores: Joana Pontes, Rodrigo de Sousa e Castro e Aniceto Afonso.

Extracto da entrevista ao então capitão Luís Macedo:
«P. – E quanto à preparação do Posto de Comando?
Luís Macedo - Quanto à preparação do Posto de Comando, a minha preocupação foi preparar a companhia como se fosse uma companhia de Infantaria, e, ao mesmo tempo, preparar os meus camaradas oficiais da unidade, aqueles de mais confiança, para que num dia próximo, que não sabíamos ainda qual era, estivéssemos preparados para tomarmos conta da unidade. O Comandante era uma excelente pessoa. Penso que se ele tivesse sido informado do que se ia passar ia ter graves problemas de consciência, não digo que ele nos iria denunciar, mas iria ter graves problemas de consciência, de maneira que decidimos não lhe dizer nada, deixá-lo sair calmamente às 17:00 e preparar tudo entre as 17:00 e as 2:00 da manhã.
P. – E só então é que começaram essa preparação?
Luís Macedo - Tudo foi combinado. Primeiro, havia que ocupar a central telefónica da unidade, para garantir que todas as comunicações seriam censuradas por nós, e que só seria dito aquilo que nós queríamos. Em segundo lugar, preparar o Posto de Comando no local que já tinha sido escolhido - um barracão que havia no cimo do Quartel. Essa preparação consistiu basicamente em isolar o local do exterior, em relação a luzes, tapar as janelas, garantir que havia alguns telefones e secretárias, que havia mapas, que havia uma sala para metermos os tais comandantes e 2º comandantes que iam ser presos, e que havia o mínimo de apoio logístico de cafés e de alguma comida. Combinei com o Garcia dos Santos que ele se encarregaria de montar as transmissões entre as 17:00 e as 24:00, e, de facto, assim que o Comandante saiu, eram umas 17:00, nós ocupámos a central telefónica, fomos levantar os cobertores para tapar as janelas e começámos a preparar a sala. Deviam ser umas 17:20, mais ou menos, estava eu a pregar uns cobertores na janela, vi um furriel que veio de fora e bateu à janela, que eu nunca tinha visto na minha unidade, apanhei um susto, mas ele trazia um cabo na mão, e eu perguntei-lhe:
- “Então, mas o que é que você está aqui a fazer, quem é você?”
- “Eu sou das Transmissões, foi o nosso tenente-coronel Garcia dos Santos que me mandou para aqui!”
- “Então o que é que você quer?”
- “Eu trago aqui os telefones!”, e apontou-me para o cabo que tinha na mão.
- “Mas o que é que é isso?”
- “Isto é um cabo de telefones.”
- “Mas donde é que vem esse cabo?”
- “Vem de Sapadores!”
- “Mas como é que vocês chegaram aqui?”
- “Há três dias que andamos a montar o cabo, ontem estivemos ali na zona do Colégio Militar e agora estamos a chegar aqui!”
Então lá vinha o cabo com não sei quantos pares de fios telefónicos para garantir as nossas ligações telefónicas… montámos logo uma série de telefones, eles também traziam os aparelhos, montámos logo os telefones nas secretárias. Passado pouco tempo apareceu o Garcia dos Santos com uns camiões carregados com um poste de 13 metros, para montarmos uma antena. Lá se montou a antena, de facto era estranho estarmos às 18:30 a montar uma antena com 13 metros de altura, mas não levantou nenhum problema, porque todos os oficiais que estavam ali na altura estavam dentro do que ia acontecer…».


2 comentários:

  1. "há três dias que andamos a montar o cabo..."
    delicioso :)

    ResponderEliminar
  2. Aniceto:
    Reli a descrição do Luis (que aliás já lhe ouvira), quer aqui, quer anteontem, neste teu novo livro, e concordo que é deliciosa. Tu já o sabes, mas se não levas a mal, deixo aqui o endereço do Blogue das Tm onde esta história vem contada com mais pormenor:
    http://historiadastransmissoes.wordpress.com/2012/01/18/as-tm-no-25-de-abril-de-74/
    Boa viagem até ao Canadá e volta bem.
    Um abraço,
    José Manuel Canavilhas

    ResponderEliminar