quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Raul Proença, O mal da República...


Raul Proença publicou, na Seara Nova de 29 de Dezembro de 1930, já fez portanto 81 anos, uma carta em resposta a um comentário do jornal Liberdade com o título “Do Estado absoluto ao Estado liberal”. Respigo alguns trechos:

“O mal da República está na miséria da sua ideologia e na estreiteza de vistas, na fraqueza ou na corrupção de grande parte dos seus homens.
O mal da República está em não ter sido tolerante quando deve, e quando deve enérgica.
O mal da República está em que prometemos sempre mais rigores do que o permitem os princípios, para, afinal, termos sempre menos do que o exige a prudência.
(…)
O mal da República está em termos ligado uma importância absoluta às formas exteriores do regime, o hino, as cores, a cartola do Presidente, a bandeira - que para mim me são estética à parte, absolutamente indiferentes - e nenhuma às suas aspirações, às suas doutrinas e às suas realidades essenciais.
O mal da República está em nos verem sempre prontos a confiar no primeiro imbecil agaloado que possua os recursos materiais de subverter a ordem legal, e em termos esperado a salvação pública de todos (dos Heróis, dos Chefes, dos Messias e até dos Asnos), menos de nós mesmos.
O mal da República está em termos feito consistir o nosso republicanismo em aclamar e vitoriar os homens públicos, em vez de os fiscalizar e controlar.
O mal da República está na criminosa impunidade com que temos dado imperecível alento a todos os movimentos revolucionários, introduzindo, por assim dizer, o direito de insurreição permanente - e sem ideias, entre as regalias fundamentais do Cidadão.
O mal da República está em não termos a coragem de castigar o crime, o verdadeiro, o único crime (o de facto, não o de opinião, que não há crimes de opinião numa Democracia) - prosseguindo assim, em vez da punição dos verdadeiros delinquentes, dos obstinados inimigos da ordem, a míseros bodes expiatórios que nada têm a ver com as sucessivas traições à República perpetradas de há vinte anos a esta parte por muitos dos que se dizem republicanos.
(…)
São estes e outros males análogos que é preciso combater”.

1 comentário:

  1. Sensacional este texto!
    Ele mostra a realidade nua e crua do sistema republicano no Brasil!

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