No dia 15 de
Julho de 1971, fez agora 41 anos, o Ministério dos Negócios Estrangeiros enviou
ao Secretariado Geral da Defesa Nacional um ofício com o seguinte texto:
«Tenho a
honra de levar ao conhecimento de V.Exª. que o diário esquerdista alemão Frankfurter Rundchau publicou, em 6 de
Junho último, uma longa correspondência de Luanda assinada por Josef Raab em
que se descreve por forma sombria e inquietante a situação militar em Angola.
Helicópteros sul-africanos transportariam soldados portugueses em operações
militares e técnicos da África do Sul estacionariam no Luso. O jornal ilustra o
seu tendencioso artigo com uma fotografia de bombas de napalm no aeroporto “Gago
Coutinho” (a primeira publicada na Alemanha) denunciando também o emprego de
produtos químicos pelas nossas forças. Referindo-se ao número crescente de
desertores, Raab pretende ter encontrado em Luanda “muitos brancos
simpatizantes com o MPLA” e convencidos de que Lisboa “não poderá por muito
tempo conservar aquela colónia”. Salienta ainda a grande importância de
armamento de origem alemã utilizado contra os “movimentos de libertação”.A firma de relações públicas que connosco colabora na Alemanha verificou agora ter sido o jornalista Jochen Raffelberg quem, sob o pseudónimo de Josef Raab, enviou para o Frankfurter Rundchau a correspondência acima mencionada.
O Sr. Raffelberg apresentou àquela firma, como prova das suas afirmações, uma série de fotografias, que junto remeto, onde se vêem bombas de napalm e um avião militar que estaria equipado para o lançamento de herbicidas. Mencionou ainda que o director do C.I.T.A., a propósito do seu desejo de se deslocar a Veríssimo Serrão, lhe teria dito que, “se um jornalista estrangeiro fosse até lá, nós deixaríamos de poder desmentir a existência de soldados catangueses instruídos pela Diamang”.
O Sr. Raffelberg fez parte de um grupo de jornalistas alemães que visitaram as Províncias de Angola e Moçambique em Abril-Maio do corrente ano.
Apresento a V.Exª. etc.»
Podemos hoje afirmar que:
1 – Os jornalistas estrangeiros conseguiam aceder aos teatros de operações, apesar das formalidades que deviam observar, mas não existiu nenhuma campanha de informação continuada e incisiva contra o regime português ou contra a guerra;2 – O uso de napalm e outros produtos químicos pelas forças portuguesas foi sempre muito difícil de provar;
3 – A partir do final dos anos sessenta passou a ser comum a presença de meios aéreos sul-africanos em apoio operacional às forças portuguesas, primeiro em Angola e depois em Moçambique, mas sempre sujeita a medidas de grande precaução. Em Moçambique, em especial na zona de Tete, também actuaram meios e forças da Rodésia.
Nota: Tanto
este blogue como eu, que o alimento, vamos de férias. Regressaremos lá para
Setembro, possivelmente renovados. Um período de reflexão faz bem a todos…
I would also be interested if the Lisbon Foreign Ministry has issued reports about my visit to Guinea-Bissau in September, 1973. This time I wrote under my full name for the Reuters news agency from Madina do Boe that our hosts said was located "in a so-called liberated area". Well, even Diario de Noticias published parts of the account at the time, but I wonder what the Ministry had to say.
ResponderEliminarJochen Raffelberg
I am still grateful to the officer who told me about the Napalm existence in the wake of the then Foreign MInister Rui Patricio's United Nations speech in which he claimed his country didn't use Napalm let alone possessing it. On the morning before my departure he woke me up at dawn to show me the Napalm bombs at the Gago Coutinho airfield. I am sure our guide, a former Portuguese officer in Africa who worked for a PR agency paid by the government, inspired him to open up. The guide, Mr Nuno R. S., later revealed to me that he had been a communist all along and claimed that there were many MPLA sympathizers among the white Portuguese population of Angola. He had also taken us on this government tour to Mozambique about which I wrote nothing. I remember how sarcastically the German Consul in Lourenco Marques, Mr von K., described to the group of German journalists at the time how the Frelimo "terrorists" were infiltrating the Colony using obscene language (Sie pieseln ueber die Grenze und werden dann abgeknallt). Also the traumatic shelling of a Nampula outpost by Frelimo fighters is fresh in my memory. What the Portuguese military hosts had originally intended to be a show of their strength south of the Rovuma to us turned into a disastrous attack on their position that lasted for an entire day. On leaving Mozambique after years of work for Reuters Limited in 1986, Mr Zumbana of the Maputo Foreign Trade Ministry handed a Makonde carving to me as a token of appreciation for my services in Mozambique. I wonder whether he knew what had happened in Nampula...I bade farewell to all my friends in the Mozambican capital by inviting them to a jazz concert at the Polana hotel.
ResponderEliminarJochen Raffelberg, Venice (raffelnews@aol.com)
Actually the Nampula outpost's name was Mueda, as I was reminded by reading the books Lourenco Marques and Um outro lado da guerra, both published by Edicoes Colibri, Lisbon.
ResponderEliminarGostava de entrar em contacto consigo com relativa brevidade, mas não dou com um mail de contacto. deixo o meu nuno70arrobamailpontopt.
ResponderEliminarnuno de magalhães