terça-feira, 19 de julho de 2011

Quintão Meireles desiste da ida às urnas!

No dia 19 de Julho de 1951, faz hoje 60 anos, Quintão Meireles, candidato da Oposição à Presidência da República, desistia da ida às urnas por falta de condições de liberdade e igualdade de tratamento. Dois dias antes, a 17 de Julho, o outro candidato da Oposição, Ruy Luís Gomes, tinha sido considerado inelegível pelo Conselho de Estado.
São estas algumas passagens do manifesto de Quintão Meireles:
"(...)
3 - O País está, espiritual, moral e politicamente mais doente do que estava em Abril de 1926, antes do movimento de 28 de Maio. (...)
O que se construiu nas coisas perdeu-se, em escala infinitamente mais elevada, nas almas, nos caracteres, na personalidade e nos sentimentos da população. Demais, seria imperdoável, ou até impossível, que no espaço de 25 longos anos, pouco ou nada se tivesse feito na ordem material, com os enormes recursos que o intensivo esforço tributário exigido às forças vivas da Nação pôs à disposição do Poder.
Porém, enquanto surgiam estradas e pontes, barragens e edifícios, monumentos e palácios, a maioria da população ia perdendo, em proveito do prestígio exterior e dos interesses políticos ou materiais de uma minoria constituída em partido único, as liberdades políticas mais elementares, o sentido espontâneo de dignidade humana, a consciência cívica, o interesse pela causa pública, o sentimento das suas responsabilidades históricas, a coragem moral, o direito e a possibilidade de recurso contra a injustiça política ou social - e aproximava-se da passividade medrosa e abúlica das populações talhadas para o totalitarismo. Neste vácuo de almas e caracteres, na depressão moral imposta por uma forma poderosamente organizada e activa - eliminada toda a fiscalização efectiva, protegidos a irresponsabilidade e o livre arbítrio, instituído como norma corrente o recurso às leis de excepção, amparada a mediocridade e a subserviência ao Poder, e ainda, para cúmulo, organizado um sistema de propaganda destinada a ocultar a fisionomia dos verdadeiros métodos e factos - a moralidade da administração não podia deixar de subverter-se. E a corrupção, instalada nos costumes, obscureceu e denegriu as próprias virtudes que a situação poderia invocar e proclamar em sua defesa.
(...)".
Manifesto do almirante Quintão Meireles, 1951

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