sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Sarmento Pimentel, A revolução do Porto


No dia 3 de Fevereiro de 1927, faz hoje 85 anos, saiu à rua, na cidade do Porto, o primeiro movimento militar contra a Ditadura implantada em 28 de Maio de 1926. O movimento devia ocorrer simultaneamente no Porto e em Lisboa, mas na capital os revolucionários só conseguiram avançar a 7 de Fevereiro, o que foi fatal para ambos os focos da revolução. Outras tentativas se seguiriam a esta, mas nenhuma delas logrou obter êxito até ao 25 de Abril de 1974, 48 anos depois.
João Sarmento Pimentel, capitão demitido do Exército, participou na revolta e a ela se refere no livro que escreveu mais tarde no exílio brasileiro (1962) com o título Memórias do Capitão, do qual se transcreve o seguinte trecho:

“Foi poucos dias antes de eclodir a revolta que o General Simas Machado me procurou para tomar parte nela, alegando que, embora eu não tivesse comando e já há alguns anos afastado do serviço de quartel, a minha adesão traria para o lado dos revolucionários dois amigos meus com influência decisiva na guarnição militar de Lisboa - o major Ribeiro de Carvalho e capitão Francisco Aragão (…)
As démarches políticas, que eu não acompanhei nem quis conhecer, eram agora chefiadas por Jaime Cortesão e emperraram, não sei bem porquê. A data de 31 de Janeiro para o levante foi adiada para 3 de Fevereiro, começando no Porto sob a promessa de que 12 horas depois Lisboa se sublevava. Acreditando na promessa, aceitaram implicitamente a derrota.
Num desses dias que antecederam a revolução fui procurado por alguns oficiais que estavam na conjura e com eles discuti detalhes da luta para derrubar a ditadura militar, insistindo sempre no pronunciamento simultâneo de, pelo menos Porto e Lisboa (…)
Quatro anos depois, exilado e demitido do Exército, assim como Ribeiro de Carvalho e tantos outros que, como o pobre de mim, andaram pela África e Flandres a defender a República e a Democracia, tiveram ocasião de me dizer que se haviam enganado, e que a revolução do Porto se perdeu pela falta de apoio imediato dos republicanos de Lisboa.
Desde então considerei a revolução perdida. Como última esperança ainda se mandou numa traineira a Lisboa Raul Proença e Camilo Cortesão para pedirem mais uma vez auxílio aos correligionários do Sul e também para os informar da situação em que nos encontrávamos: muita gente por enterrar, os hospitais atulhados de feridos e as munições de guerra e as de boca a acabarem-se.
O Governo aproveitou a diversidade de opiniões no seio dos políticos da oposição, e da indecisão daqueles que lhe arreganhavam os dentes, para estabelecer uma defesa forte em Lisboa e para concentrar as tropas de outras Regiões Militares à roda da cidade do Porto, nos lugares estratégicos que lhe garantissem a iniciativa do ataque às forças revolucionárias.
Não foi difícil aos neutros perceberem para que lado pendia a vitória e que o Governo estava senhor das Fábricas de Munições e dos Caminhos de Ferro. E como, além duma parte da tropa cujos Comandos havia escolhido à sua feição totalitária, também tinha nas mãos largas o Banco de Portugal, a ditadura ordenou o bombardeamento indiscriminado e intensivo.
Dois dias depois o comando revolucionário pedia um armistício e Lisboa... revoltou-se!
Nós os do Porto, chamámos àquele levante tardio de Lisboa, a "Revolução do remorso".
É claro que a ditadura, podendo bater os seus inimigos, primeiro um e, depois deste vencido, o outro esmagou este retardatário impiedosamente.
Deu-se até ao esporte salazarista de andar a caçar a tiro, nas ruas de Lisboa, os republicanos tresmalhados, como quem caça coelhos”.

Nota pessoal: Tive o privilégio de acompanhar o conselheiro da Revolução, António Marques Júnior a S. Paulo, em 1982, para levarmos as estrelas de general ao capitão Sarmento Pimentel, depois da sua promoção decretada pelo Conselho da Revolução.

2 comentários:

  1. Ena, gostei do novo visual, ficou mais apelativo :)
    Sugiro que sempre que haja um post novo seja colocado também na página do facebook porque assim recebemos a notificação e mais gente pode ver
    bjs

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  2. Com meus cumprimentos, dou conhecimento que respiguei o seguinte, com a devida vénia,

    90 Anos da Revolta do 3 de Fevereiro do Porto, de João Sarmento Pimentel
    In “Longra Histórico-Literária”, clicando em

    http://longrahistorico.blogspot.pt/2017/02/90-anos-da-revolta-do-3-de-fevereiro-do.html

    Armando Pinto

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